Fragmentação

Aqui você pode ler o texto original da peça “Que a vida imite a arte”, considerando apenas as partes em negrito. 

QUE A VIDA IMITE A ARTE!

Cena 1 – Água fria

Fragmento 1: A peça começa com dois amigos sentados num banco de praça. Eles acabaram de se reencontrar depois de 20 anos. Dois… quarentões. Eles estão ali, com ar de sorriso, como se tivessem acabado de relembrar algo bastante… agradável. Até que o Ronaldo vira pro Murilo e fala assim: Quando o Roberto me falou, que você tava na cidade… Depois desse tempo todo…  Você era um irmão pra mim, você sabe. E ainda é.

Fragmento 2: O Murilo gostou de ouvir aquilo. Ficou até meio… emotivo. E respondeu: É claro que eu sei. E você pra mim.

Fragmento 3: É um clima leve; agradável… Rola uma pausa breve, até que o Ronaldo pergunta, tentando lembrar: Vocês foram pra Manaus a gente tinha…  

Fragmento 4: Aí o Murilo responde, sem muita precisão: Dezoito, praticamente.

Fragmento 5: Aí o Ronaldo avalia, e fala: Vinte e dois anos… Olha isso.

Fragmento 6: Aí o Murilo para, pensa, e acaba revelando o motivo do retorno: Pois é, precisou tia Carlota adoecer… Mamãe, único parente vivo… E cá estamos nós. Uma cuida da outra, e eu das duas.

Fragmento 7: Aí o Ronaldo dá aquela frisada no olhar… De quem tá estranhando alguma coisa. O Murilo percebe, e meio que… corrige uma injustiça: E as duas de mim.

Fragmento 8: Aí o Ronaldo, de imediato, com bom humor, vai lá e manda essa: Ãh bom… E eu não conheço as peças? Mais superproteção… Só… na liga da justiça.

Fragmento 9: O Murilo ri, né? Acha graça. E fala pro Ronaldo: Você não presta Ronaldo.

Fragmento 10: Aí o Ronaldo é sarcástico: Muito obrigado! Pra depois… cair no saudosismo: Eu só sei que é muito bom, sentar aqui com você… e relembrar aqueles tempos.   

Fragmento 11: Aí rola uma pausa, e os dois, mais uma vez ficam lá, pensativos… Até que o Murilo lembra de alguma coisa e lança um desafio: Adivinha do que é que eu lembrei agora?

Fragmento 12: Aí o Ronaldo logicamente fica curioso, aí para, pensa bem, e arrisca: Daquela coça de fio que mamãe me deu. Por sua causa!

Fragmento 13: Aí o Murilo descarta aquilo de imediato. Vai ver tinha mesmo… culpa no cartório. Vai saber. E acaba trazendo à tona algo bem interessante. Ele vira e fala assim: Nããão… Da nossa peça. Primeiro lugar naquele concurso. Pouco antes deu ir pra Manaus. Parece até que aquilo foi um sonho.  

Fragmento 14: O Ronaldo ficou animado com aquilo, mas não perdeu a oportunidade de deixar o Murilo… intrigado: É claro que eu lembro. / Aí. Vou te falar uma coisa cê não vai acreditar.

Fragmento 15: Aí o Murilo, surpreendido, teve que perguntar: O que é que foi?

Fragmento 16: Aí o Ronaldo mandou  uma… que foi difícil pro Murilo assimilar: Os meus filhos encenaram elaaa.

Fragmento 17: Aí o Murilo, incrédulo, virou pro Ronaldo e falou assim: Mentira. A nossa peça? Aquela?

Fragmento 18: Aí o Ronaldo, categórico: Siim. Pra escola inteira. Arrasaram. Nós arrasamos. Né? Eu até pensei: “Se o Murilo tivesse aqui… / Mas tá tudo gravado. Cê vai assistir.

Fragmento 19: O Murilo ficou de boca aberta, tentando imaginar. E falou assim: Cara… Eu vou viajar muito.

Fragmento 20: Aí o Ronaldo frisou. Assim, pra não deixar dúvidas: Vai. Porque ficou… demais.

Fragmento 21: Aí o Murilo, talvez pra saber se teria perdido aquilo por pouco, perguntou assim: Tem muito tempo isso?

Fragmento 22: O Ronaldo responde, e acabou dando detalhes que envolvem até uma certa… emotividade: Agora. Um ano e meio atrás. Meu garoto com 20… a guria com 18. A Márcia, minha esposa, já tinha lido, mas assim… ficou encantada, vendo os filhos lá.

Fragmento 23: Aí o Murilo, nitidamente.. tentando imaginar aquela situação, acabou fazendo um comentário… bacana: Certamente… uma belíssima experiência em família.

Fragmento 24: O Ronaldo concordou, mas fica meio… de farol baixo. E falou assim: Sim. / Infelizmente… a nossa última boa lembrança. A gente se separou, logo depois. A Márcia recebeu uma boa grana, de herança, e um restaurante, lá em Jundiaí. E aproveitou pra… fazer o que já tava querendo. Assim vejo eu.

Fragmento 25: O Murilo saca, que o astral do amigo deu uma.. caída, e fica sem saber o que dizer. Acaba… ficando no basicão mesmo: Eu sinto muito.

Fragmento 26: O Ronaldo tá à vontade ali com o amigo. Com o irmão. E acaba abrindo um pouco mais o jogo: Já faz mais de um ano, mas… quando a gente gosta… É muito… complicado.

Fragmento 27: Bom, o Murilo… não é mais um garoto; já deve ter vivido das suas. Consegue se mostrar… solícito: Eu sei como é que é.

Fragmento 28: Fica claro que o Ronaldo ainda ama a mulher. Tanto que começa se perder um pouco. Naquela… vibe ruim: É toda uma história sabe? Juntos. Os filhos… E você ter que… Enfim...

Fragmento 29: Aí você vê que o Murilo tenta… tirar um pouco o foco dele, lá da… ex digníssima: Mas fala dos seus filhos.

Fragmento 30: Aí o Ronaldo… sai, do transe, e começa a falar das crias: O Pedrinho tá na faculdade, em Campinas. Jornalismo. Arrumou emprego por lá. / Mas sempre liga; de vez em quando aparece…

Fragmento 31: E o Murilo vai… administrando bem, a situação: E a guria?

Fragmento 32: Aí o Ronaldo esboça um sorriso, e se anima pra falar da filha. Aparentemente… o xodó dele: Ficou comigo. Afinidade demais. Divergimos, às vezes. Aí cê tem que ver os argumentos. Já me dava xeque-mate com oito anos. Acredite se quiser. / Sinto orgulho? Ou vergonha?

Fragmento 33: O clima definitivamente melhora. O Murilo, responde: Orgulho, orgulho. / E.. bastante agradável, fala assim: Quis ficar com o paizão…

Fragmento 34: O Ronaldo concorda, mas não esconde o jogo: É… Tá namorando um nerd aí. Acho que também ajudou.

Fragmento 35: O Murilo balança a cabeça positivamente, e bem… contido, comenta: Entendi.

Fragmento 36: Aí rola uma pausa… e do nada, o Ronaldo volta na questão lá da peça. Do concurso, que eles ganharam. Deve ter lembrado da filha, encenando… Ele vira e fala assim: Aí. A gente ganhou aquele concurso não foi à toa não? Você teve uma ideia muito boa. / O fio central, né?

Fragmento 37: O Murilo gostou de ouvir aquilo. Concordou, e relembrou mais detalhes: Sim. Aí a gente resolveu fingir, que você era realmente o Ricardo, e que eu era realmente o Eduardo. E o papo… rolou.

Fragmento 38: Aí o Ronaldo ri, relembrando o processo, e acrescentou: Rolou, e rendeu. No final das contas…

Fragmento 39: Aí o Murilo completa, pra lá de saudosista, e com orgulho, é claro: Primeiro lugar em autoria teatral estudantil. A nível estadual.

Fragmento 40: O Rolando até frisa os olhos, viajando naquela lembrança. É… Lembra da repercussão?

Fragmento 41: E o Murilo… traz mais detalhes: É claro! Teve até entrevista, na TV local.

Fragmento 42: E o Ronaldo, idem: Siim… Um monte de gatinha, querendo foto… Autógrafo.

Fragmento 43: E o Murilo, bem… nostálgico… resume tudo: Ééé… / Aquilo tudo foi muito legal.

Fragmento 44: E o Ronaldo também toca a real: Quer saber? Essa é uma das melhores lembranças da minha vida. 

Fragmento 45:  O Murilo concordou, e deu até uma… filosofada básica: Da minha também. / Relembrar é meio que… reviver. Né?

Fragmento 46: O Ronaldo balançou a cabeça positivamente, e foi obrigado a concordar: Siim…

Fragmento 47: Aí rola uma pausa, os dois ali, perdidos, em devaneios, até que o Ronaldo faz uma observação, que parece causar estranheza até pra ele mesmo: Eu nunca mais mexi com teatro.

Fragmento 48: E o Murilo, parecendo compartilhar do mesmo estranhamento, acrescenta: Eu também não.

Fragmento 49: Aí rola uma pausa, os dois avaliando, o que foi dito, até que de o Murilo volta, pra realidade: Mas… voltando pro agora. Corta pro agora.

Fragmento 50: O Ronaldo se recompõe, e dá atenção: Fala.

Fragmento 51: Aí o Murilo se remete a algo, que muito provavelmente, já teria sido comentado, ali naquele reencontro: Eu preciso de um trampo.

Fragmento 52: Aí o Ronaldo… tranquiliza o Murilo: Calma. Eu já tô pensando em alguma coisa.

Fragmento 53: E o Murilo… se liga: Sério? Qualquer coisa… me avisa.

Fragmento 54: Aí o Ronaldo dá o amém, e acaba fazendo uma pergunta pro Murilo, que desencadeia uma reviravolta, ali na hora:: Sim, claro. / E esse jornal aí? Alguma… proposta de trabalho interessante? 

Fragmento 55: Aí o Murilo responde, com tranquilidade: Na verdade… eu nem abri ainda.

Fragmento 56: Aí o Murilo abre o jornal, dá uma folheada, e de repente tem uma senhora surpresa. O Ronaldo até perguntou: Que cara é essa?

Fragmento 57: O Murilo ficou… atordoado, e falou pro Ronaldo: Olha isso aqui!

Fragmento 58: Aí eles começam a ler juntos. Mas como o Murilo começou primeiro, ele termina antes. E se levanta, e começa a andar de um lado pro outro, com uma mão na cabeça, e ar de perplexidade. Até que o Ronaldo também termina, aí vira e fala assim: Rapaz… É bonito isso.

Fragmento 59: Aí o Murilo, afoito, falou pro Ronaldo com uma certa urgência: Sim, sim. Mas fala aí!

Fragmento 60: O Ronaldo tava bem sereno. E respondeu calmamente: Pois é, o cara teve uma experiência… aparentemente parecida, com essa que você me contou agora há pouco, e tá querendo…

Fragmento 61: Aí você vê que dois não tão na mesma frequência. Na mesma sintonia. Tanto que o Murilo dá uma atropelada básica, meio frenético: Replicá-la ao extremo. O máximo que ele puder. Até aí, beleza.

Fragmento 62: O Ronaldo até estranha um pouco aquilo. Mas continua… zen: Sim. / O cara é um megaempresário; um ricaço… Teve uma… epifania…

Fragmento 63: O Murilo tem aquela coisa, de não perder a piada, então, mesmo tenso, foi lá e mandou essa: Parece… grave, não?

Fragmento 64: O Ronaldo vai virando pro Murilo, devagar, com aquele… espanto bem humorado, mas o Murilo logo esclarece: Tô zoando. Uma revelação divina, pra resolver algo… aparentemente, sem solução.

Fragmento 65: Aí o Ronaldo ri, relaxa, e continua: Pois é. Parece mesmo um… direcionamento divino.

Fragmento 66: Aí o Murilo, como cara de quem não tá acreditando, vira pro Ronaldo e pergunta: Sim, mas… independente disso, o que é que você me diz?

Fragmento 67: O Ronaldo não entende bem, aí para, pensa, e fala assim: / Pera aí. Você tá falando… Não, não… Não tem como.

Fragmento 68: Aí o Murilo pergunta, meio pasmo: Como assim? Você acha que isso aí é uma coincidência?

Fragmento 69: Aí o Ronaldo dá uma… apaziguada: Olha só, a gente acabou de tomar conhecimento disso. Então… vamo com calma.

Fragmento 70: Aí o Murilo levanta as mãos, e aparentemente, se rende: Tá bom. Mas não se segura: / Qual foi a parte de “10 milhões, pras três, PEÇAS DE TEATRO, com maior o potencial evangelístico…”, que você não entendeu?

Fragmento 71: Aí o Ronaldo, irritantemente calmo, respondeu: Eu entendi.

Fragmento 72: O Murilo não consegue acreditar que o Ronaldo não tá se entusiasmando com aquilo, aí vira pra ele e fala assim: Olha só: Quando alguém fala: “Coincidências não existem”, eu discordo. É claro que coincidências existem. Mas ISSO aí? A gente tem seis meses! Vamo lá!

Fragmento 73: Aí o Ronaldo tenta… ponderar: Pode ser coincidência, e pode não ser. Se é, é. Mas se não for, você tá querendo dizer exatamente o quê?

Fragmento 74: Aí o Murilo apresenta um argumento – pra mim – de peso: Vinte anos depois; no dia em que a gente se reencontra… Acabamos de falar do assunto… Você quer que eu pense o quê?

Fragmento 75: Aí o Ronaldo foi um pouco… frio. Sei lá. Ele virou e falou assim: Que Deus preparou isso? Que o universo conspirou? Vão ter que caprichar mais. Sabe porquê?

Fragmento 76: Aí Murilo já ficou até com medo, mesmo sem saber o que ia ouvir: Fala.

Fragmento 77: Aí já era. Dá pra entender, o que o Ronaldo falou: Eu amo o meu trabalho, mas ele me esgota. Eu chego em casa morto. Tomo um banho; janto; e apago. No outro dia, tudo de novo. De segunda, à sábado. Como é que eu vou arrumar tempo pra… ler bíblia; elaborar texto; trama; diálogos…

Fragmento 78: Um xeque mate. Né? Aí foi a vez do Murilo ficar pra baixo. Ia falar o quê?: Entendi.

Fragmento 79: E o Ronaldo, sem maldade, até pra ver se o Murilo desencanava de vez, ainda acrescentou: Fora isso: Dez milhões! Imagina a concorrência! Até ateu vai participar. / A nível nacional! / Isso sem falar que nem é a nossa praia. Tanto que nenhum dos dois… nunca mais mexeu com isso.

Fragmento 80: Aí o Murilo foi até bastante humilde. Falou assim, bem… triste: Tá bom. / Vai ver… o desemprego tá me fazendo ver coisa onde não existe.

Fragmento 81: Aí você vê que o Ronaldo ficou se sentindo meio em dívida, com o amigo. Aí tentou remediar: Também não precisa ficar assim. Escuta isso: Eu tô pra receber uma promoção. A qualquer momento. Logo, logo… eu vou poder te ajudar.

Fragmento 82: O Murilo, ainda baqueado, assentiu com a cabeça e falou assim: Beleza.

Fragmento 83: Aí o Ronaldo olha pro relógio, e lembra de um compromisso, do qual já devia ter comentado: Olha aí. Vou ter que ir lá. Buscar a guria, na rodoviária. Mas a gente vai se falando. Vamos marcar, pra você assistir à peça lá em casa. Tá bom?

Fragmento 84: O Murilo… compreende, e concorda: Tá bom.

Fragmento 85: Aí o Ronaldo, antes de sair, vira pra ele e fala assim: Não fica chateado comigo não. Vem cá. Me dá um abraço aqui.

Fragmento 86: Aí rola um abraço, e o Ronaldo, pra reforçar o laço, frisa bem: Ó. Tamo junto.

Fragmento 87: O Murilo, com simpatia, agradece: Valeu, valeu.

Fragmento 88: Aí o Ronaldo se despede de vez: Ó: Fui! E sai de cena, enquanto o Murilo senta no banco, pensativo. As luzes se apagam, fim da primeira cena.

Cena 2 – Intervenção Divina

Fragmento 89: A peça dá um salto de uma semana. A segunda cena começa com o Ronaldo sentado num outro banco de praça. Ele olha prum lado, olha pro outro. Parece… tenso. Até que o Murilo entra em cena, animado. Já chega perguntando: E aí? Já sei. Rolou a promoção.

Fragmento 90: O Ronaldo… hesita um pouco, e fala assim: Bom, na verdade…

Fragmento 91: O Murilo tá ansioso, e dá um empurrãozinho: Fala aí.

Fragmento 92: Aí o Ronaldo, começa, o… relato: O meu chefe me chamou na sala dele, e… a coisa resumidamente foi mais ou menos assim: “Ronaldo, nós não sabemos o que seria dessa empresa sem você”.

Fragmento 93: Aí o Murilo não aguenta. E atropela. Repete a última frase do amigo e mostra o braço arrepiado: “Não sabemos o que seria dessa empresa sem você”. Até me emocionei agora. Olha aqui, olha aqui!

Fragmento 94: O Ronaldo ignora aquilo, e prossegue replicando a fala do chefe: “Bom, a partir de hoje, nós vamos descobrir”.

Fragmento 95: O Murilo dá até uma congelada. E questiona: Não entendi. Pera aí. Fui reto na curva. Como é que é?

Fragmento 96: E o Ronaldo segue em frente: “Por favor, passe no departamento pessoal e assine a papelada”.

Fragmento 97: Aí rola uma pausa; o Murilo boquiaberto, desnorteado, involuntariamente acaba até sendo meio cômico: Eu te falei que eu tenho labirintite, né? / Tô tentando assimilar.

Fragmento 98: Aí o Ronaldo, meio robótico, com o olhar congelado, acrescenta: Eu também. / Pra quem esperava uma promoção…

Fragmento 99: Aí o Murilo entra numa de querer entender: E alegaram o quê?

Fragmento 100: Aí o Ronaldo responde, a princípio com ar de descrença, mas na sequência… revela, o motivo da demissão: Reestruturação. Mas eu já sei o que foi. Rachei um Uber com a secretária dele. Uma… beldade, pela qual ele é… obcecado.

Fragmento 101: E o Murilo, como quem já entendeu tudo, fala assim: Iiih…

Fragmento 102: E o Ronaldo dá mais detalhes: Ficou sabendo que ela… andou elogiando o meu… astral.

Fragmento 103: O Murilo não consegue acreditar. E verbaliza: E foi o suficiente.

Fragmento 104: O Ronaldo, ainda descrente, responde pra ele: Pra você ver.

Fragmento 105: Aí rola uma pausa breve, e o Murilo assim… sem palavras, né? Não sei nem o que te dizer. Sei lá. Bem-vindo ao clube, né?

Fragmento 106: O Ronaldo respondeu na maior apatia: Valeu.

Fragmento 107: Aí rola uma pausa… mais prolongada, até que o Ronaldo vira lá pro Murilo e fala assim: Mas não foi só por isso que eu te chamei aqui não.

Fragmento 108: Aí o Murilo, meio sem reação, fala assim: Fala aí.

Fragmento 109: Aí o Ronaldo, assim, pra lá de hesitante… E bem… sem graça, virou pro Murilo e falou assim: Eu… fiquei… curioso, e… dei uma olhada lá, no edital, daquele… concurso.

Fragmento 110: Aí o Murilo, sem esboçar qualquer reação, falou assim: Sei.

Fragmento 111: O Ronaldo, mesmo sem graça, acabou perguntando: Você… chegou a dar uma olhada?

Fragmento 112: O Murilo, desanimador, respondeu assim: Não. Seus argumentos foram bem convincentes. Desanimei… geral.

Fragmento 113: Aí rola um silêncio, e lá vem o Ronaldo: Sei. Mas assim… Entusiasmo… zero?

Fragmento 114: O Murilo, apesar de mórbido, ainda conseguiu dar uma… ironizada: Na lona. Foi nocauteado, né? Não ficou sabendo?

Fragmento 115: O Ronaldo entende a ironia, é claro, e argumenta: Olha só: Eu não falei que eu não queria. Eu falei que eu não podia. Que eu não tinha… tempo.

Fragmento 116: O Murilo, em tom formal, verbaliza um argumento do próprio Ronaldo: Esquece. “São 10 milhões! Imagina a concorrência”!

Fragmento 117: O Ronaldo, timidamente, mas… sonso, contra-argumenta. No caso, a ele mesmo, né?: Sim mas… o 3° lugar… paga bem. Não precisa ser o… 1°.

Fragmento 118: E o Murilo continua: E daí? “Até ateu vai participar”!

Fragmento 119: Aí o Ronaldo, esboça… facialmente, um desdém pelo próprio argumento, e dá mais um… drible: Força de expressão… Onde já se viu? Um ateu, evangelizando.

Fragmento 120: O Murilo… um zagueirão: “Nem é a nossa praia. Tanto que nenhum dos dois nunca mais mexeu com isso”.

Fragmento 121: O Ronaldo… matador. Olha essa: A gente conseguiu quando era novo. Imagina agora, muito mais experientes… / Você é convertido; conhece a bíblia…

Fragmento 122: O Murilo… não quer perder: “É a Nível nacional! E não… estadual”.

Fragmento 123: Aí olha a letra que o Ronaldo manda, fechando um enquadramento com as mãos: Sim mas… prum… nicho… bem específico. Não é isso?

Fragmento 124: Aí o Murilo teve que apelar: Tá bom. / “Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar”!

Fragmento 125: Aí o Ronaldo para, pensa, e questiona, né?: Não, peraí. Essa aí não!

Fragmento 126: Aí o Murilo entrega o jogo, né?: Eu sei Ronaldo. Eu tô zoando Ronaldo. Imagina você daqui a 40 anos no meu ouvido: “Se a gente tivesse tentado, né? Mas você não quis. Nunca vamo saber”. Tá loco!

Fragmento 127: Aí o Ronaldo pergunta pro Murilo, ainda meio incrédulo: Então você topa?

Fragmento 128: Aí o Murilo, ainda dando uma de difícil, vira pro Ronaldo e fala assim: Já que você insiste… tudo bem então. Mas com uma condição.

Fragmento 129: Aí o Ronaldo fica ressabiado, e curioso é claro, e pergunta: Qual?

Fragmento 130: Aí o Murilo vem com uma bem, bem inesperada. E sagaz: Quero conhecer a guria que te dá xeque-mate. Porquê olha… Vou te contar hem.

Fragmento 131: O Ronaldo, aliviado, e, lisonjeado, responde com bom humor: Dou minhas pernadas, dou minhas pernadas. Conhecer a Bibi? Isso aí não vai ser problema.  

Fragmento 132: Aí o Murilo resolve… dar um start: Então vamo lá. Quais são os planos?

Fragmento 133: Aí o Ronaldo…  abre o jogo: Eu já até dei sondada… pra saber dos detalhes da conversão, do tal empresário. Pra ver se vinha alguma ideia, alguma… inspiração. Mas infelizmente… não achei nada.

Fragmento 134: O Murilo elogiou, a iniciativa: Foi uma boa ideia. E eu também achei estranho, ele não dar… maiores detalhes, naquela matéria.  

Fragmento 135: Aí o Ronaldo mira, o Murilo, e apresenta uma outra ideia interessante: Eu só sei que a SUA experiência de conversão foi bem… impactante. Se a gente usasse isso na peça, só pra…

Fragmento 136: Aí, antes mesmo do Ronaldo concluir o raciocínio, o Murilo já se mostra totalmente simpático à proposta: Gostei da ideia.

Fragmento 137: Aí o Ronaldo, com muito… tato, acrescentou: Assim… com todo o respeito.

Fragmento 138: Aí o Murilo demonstra de vez que se agradou da ideia:  Não, não… Tudo bem. O tema pede. E pra mim vai ser uma honra. Vai rolar.

Fragmento 139: Aí o Ronaldo dá uma relaxada, com aquela… soma de pontos, vamos dizer assim: Maravilha então.

Fragmento 140: Aí, depois de uma pausa breve, o Ronaldo acaba levantando uma questão bem interessante: Será que a nossa velha tática ainda funciona? Fingir que somos os personagens. Você não tem essa curiosidade?

Fragmento 141: Aí o Murilo… é enfático: Com certeza sim.

Fragmento 142: Aí o Ronaldo, tentando.. impulsionar a empreitada, fala assim com o Murilo: Bom, só falta uma boa ideia então. Você… tem alguma coisa em mente?

Fragmento 143: Aí o Murilo… surpreende o Ronaldo: Na verdade… sim. Mas eu ainda tô… amadurecendo a ideia.

Fragmento 144: Aí o Ronaldo não se aguenta e enquadra o Murilo: Aah.. mas fala aí. Qual é a ideia?

Fragmento 145: Aí o Murilo faz um suspense, e apesar de piadista, acaba sendo bem… enigmático: Eu posso até falar, só não vale me acusar de plágio.

Fragmento 146: O Ronaldo não entende nada, é claro, e questiona:  Plágio? Como assim? Não entendi.

Fragmento 147: Aí o Murilo consegue acender uma fagulha, bem… promissora: Imagine aí… dois amigos que se reencontram depois de muuito tempo.

Fragmento 148: Aí você tinha que ver a cara do Ronaldo. Frisou os olhos, e foi… sondando: Você fala… uns… 20 anos?

Fragmento 149: Aí o Murilo, cínico, vai e lá manda essa: É… um bom… tempo.

Fragmento 150: Aí rola um silêncio, e o Ronaldo… pergunta, né? E…?

Fragmento 151: Aí não dá pra saber se o Murilo já tem algo em mente, ou se ele ainda tá… no vácuo, porque ele só fala assim:   Bom, daí pra frente…

Fragmento 152: E o Ronaldo tá atento, e pergunta: Daí pra frente…?

Fragmento 153: Aí eu não sei se o Murilo já sabia o que ia falar, ou se aquilo… surgiu na mente dele ali na hora. Olha, a, viagem: Daí pra frente… eles acabam… hesitando, em reviver uma glória passada, devido a uma conspiração “mal acabada”, por parte do… universo. Aí olhando de soslaio pro Ronaldo: O qual resolve… “caprichar mais”, tornando assim viável… a empreitada.

Fragmento 154: Aí é comédia. Você tem que ver a cara do Ronaldo. Do nada ele passa da surpresa, prum ar de… fidalgo, e começa um diálogo com uma voz… empolada: É uma ideia… excelente. Supimpa!

Fragmento 155: E o Murilo embarca. Não sei se aquilo era alguma brincadeira deles, lá do passado…: Você também achou?

Fragmento 156: E o Ronaldo engrena: Sim. Já teríamos até aí… metade da peça. (repentino)E pode ficar tranquilo. Quanto à questão do… plágio.

Fragmento 157: E o Murilo acompanha: Sim, sim. É muita gentileza.

Fragmento 158: E a brincadeira continua. E o Ronaldo propõe algo: Apaziguemos as coisas então… da seguinte maneira:

Fragmento 159: E o Murilo… figura: Sou todo ouvidos.

Fragmento 160: E Ronaldo segue. Empoladão: Me conceda a coautoria, e que reine, a paz.

Fragmento 161: O Murilo, cômico, finge surpresa e concorda plenamente:  Negócio fechado. E que reine a paz então!

Fragmento 162: Aí o Ronaldo, impagável: Nobre aristocrata…!

Fragmento 163: E o Murilo idem: Ilustre fidalgo…!

Fragmento 164: Aí eles apertam as mãos, dão boas risadas… A animação é geral. Olha o Ronaldo: Murilão, essa foi demais! Uma peça baseada em fatos reais! Olha aí! Até rimou!

Fragmento 165: Aí o Murilo, cuidadoso, faz uma ressalva: Meia, peça.

Fragmento 166: Aí o Ronaldo se toca, e dá uma travada: É. Meia peça.

Fragmento 167: Aí o Murilo faz uma observação muito sagaz. Ele vira e fala assim: Olha só que loucura: Até aqui, na metade da peça… Presta atenção: A arte, vai, imitar a vida.

Fragmento 168: O Ronaldo tá bem atento. E concorda: Certo.

Fragmento 169: Aí o Murilo propõe algo: Agora, imagine, se daqui pra frente… a vida, resolve…

Fragmento 170: Aí o Ronaldo atropela, animado: Dar o troco.

Fragmento 171: E o Murilo, apazigua, sutilmente: Nãão. Retribuir a gentiliza… e, imitar a arte.

Fragmento 172: Aí o Ronaldo pensa um pouco, e… entra no espírito da coisa: Então vamo caprichar! A nosso favor, é claro.

Fragmento 173: O Murilo concorda, e sem querer, verbaliza o título ideal pra peça: Com certeza. / E… que a vida imite a arte.

Fragmento 174: E o Ronaldo, rápido no gatilho, praticamente… decreta: Olha aí o título!

Fragmento 175: E o Murilo, assim… tomado: “Que a vida imite a arte”. Perfeito.

Fragmento 176: Aí o Ronaldo saca alguma coisa: Mas pera aí.

Fragmento 177: O Murilo fica meio apreensivo e pergunta: O que é que foi?

Fragmento 178: Aí o Ronaldo deixa ele cabreiro: Nós vamos ter um pequeno problema.

Fragmento 179: E o Murilo pergunta: Que problema?

Fragmento 180: E o que o Ronaldo fala, realmente tem a ver: Não vai dar pra saber se o nosso velho método, ainda funciona.

Fragmento 181: O Murilo não entende de cara, e pergunta: Como assim?

Fragmento 182: Aí essa sacada do Ronaldo foi muito legal: Não vamos precisar fingir que somos os personagens.

Fragmento 183: Aí o Murilo enxerga as coisas com clareza e fala assim: Nós somos os personagens. É isso mesmo.

Fragmento184: Aí o Ronaldo confirma, e desencana: Siiim. / Bom… fica pra próxima.

Fragmento 185: E o Murilo também acaba se conformando: Fazer o quê?

Fragmento 186: E o Ronaldo, meio… confidente, vira pro Murilo e fala assim: E não é que parece mesmo uma… intervenção divina?

Fragmento 187: Aí o Murilo é… sucinto: Eu, não tenho dúvidas.

Fragmento188: E o Ronaldo… veste a camisa: Depois dessa… nem eu.

Fragmento 189: Aí o Murilo se levanta, e fala assim: Vamo andando então?

Fragmento 190: Aí o Ronaldo também se levanta, e eles vão saindo de cena. Aí o Ronaldo pergunta assim pro Murilo: E o entusiasmo? Não tá mais na lona, né?

Fragmento 191: Aí o Murilo usa uma metáfora bem bacana: Não. Tá de asa delta meu amigo! Tá de asa delta!

Fragmento 192: O Ronaldo gostou do que ouviu, é claro, e já saiu dali… definindo a nova etapa: É isso aí! Agora é colocar isso tudo no papel! Partiu?

Eles saem de cena. As luzes se apagam. Fim da 2ª cena.

Cena 03 – A Entrevista

Fragmento 193: A terceira cena começa num gabinete pastoral. O Ronaldo tá sentado numa poltrona, e a uma certa distância dele, de pé, está o pastor Walter. Ele coloca as mãos na cintura, e com ar de espanto faz a seguinte pergunta pro Ronaldo: Nunca leu a bíblia?

Fragmento 194: O Ronaldo… um tanto constrangido, responde, com sinceridade: Não.

Fragmento 195: O pastor considera, e consegue encontrar algo de positivo naquela… confissão: Bom, pelo menos você admite. Já é o primeiro passo para a recuperação. / Mas nem os evangelhos?

Fragmento 196: Aí o Ronaldo responde com mais tranquilidade, por já ter o que entregar: Tô lendo agora. Pra me… familiarizar.

Fragmento 197: Aí o pastor enxerga uma certa frieza, nas verdadeiras motivações do Ronaldo, e comenta: Pro concurso.

Fragmento 198: O Ronaldo responde… com naturalidade: Sim.

Fragmento 199: Aí o pastor senta numa outra poltrona, faz uma cara de quem… confirmou as suas impressões, e fala: Entendi.

Fragmento 200: Só que aí o Ronaldo faz um comentário, que deixa o pastor bastante surpreso: E tem uma coisa que chamou muito a minha atenção. Eu nunca parei pra pensar, que esses evangelistas, andaram pra cima e pra baixo com Jesus durante três longos anos. Numa época em que praticamente não havia… entretenimento.

Fragmento 201: E o pastor faz um acréscimo: Comparando com os dias atuais então…

Fragmento 202: E o Ronaldo acaba… ficando mais à vontade: Então era o quê? Conversavam o tempo todo. Ou seja, se tornaram… íntimos, Dele. / Eu tô lembrando aqui: Jesus lavou os pés dessa galera.

Fragmento 203: E o pastor embarca, já que é a praia dele, e já manda uma lá, de Jesus: “Não vos chamarei servos, mas amigos”.

Fragmento 204: O papo começa a render, e o Ronaldo acaba até… abrindo coisas íntimas dele lá: Pois é. Só que eu sempre tive em mente, um Deus… distante, indiferente, aos nossos problemas. Criou tudo e… saiu por aí, pelas galáxias… Sem se importar, com o que ficou pra trás.

Fragmento 205: O pastor se surpreende com aquela ótica. E fala o que achou: É uma visão bem…  sombria.

Fragmento 206: Aí o Ronaldo começa a… divagar, olhando pra frente… e faz uma breve retrospectiva, sobre a sua… percepção de Deus: Mas quando eu era mais novo, sempre que acontecia alguma coisa ruim…

Fragmento 207: Aí o Ronaldo faz uma pausa, mas o pastor quer saber: Diga.

Fragmento 208: E o Ronaldo continua, aparentemente tentando visualizar, o que tá descrevendo: Aí eu já imaginava uma espécie de… guardião intergaláctico, com uma cadernetinha, me olhando de cima pra baixo, anotando as minhas falhas, e me dizendo – sem usar palavras: “Você sabe que me deve”. E sabe como é. Ninguém é perfeito, então…

Fragmento 209: E o pastor… se impressiona: Cruzes.

Fragmento 210: Aí o Ronaldo se perde um pouco, nas divagações, ali com ele mesmo: Nem sei o que é pior. Indiferença, ou cobranças? / Indiferença é pior. Quem te cobra pelo menos te enxerga. Toma conhecimento da sua existência. Ou será que eu vejo assim… por já ter amargado uma boa e velha… indiferença paterna?

Fragmento 211: O pastor prefere… não se aprofundar naquilo. Ficou meio bolado. E muito sutilmente, tenta trazer a coisa de volta ali, pro contexto: Mas e agora? Lendo os evangelhos? Algo mudou?

Fragmento 212: O Ronaldo responde, mas assim… de um jeito de fazer inveja a qualquer carioca: Siim… Qualquer um que lê… encontra um Deus que… quer jogo. Que pede bola, entende?

Fragmento 213: O pastor fica meio confuso, e questiona: Pede bola?

Fragmento 214: O Ronaldo responde, mas… enfim… santa informalidade: É… “Vinde a Mim, diretamente, vós que estais… detonados.

Fragmento 215: E o pastor, que acompanhava ali, avidamente, corrige: “…cansados e oprimidos”.

Fragmento 216: E o Ronaldo completa o raciocínio. Na verdade, um versículo bíblico. Só que… à sua maneira: E Eu vos darei um… help.

Fragmento 217: O pastor hesita em corrigi-lo, e acaba deixando pra lá: Sim, sim.

Fragmento 218: Aí o Ronaldo fala uma algo realmente… tocante. Pelo menos pra mim: Ou seja, Deus é um Deus que quer… intimidade. E eu nunca cheguei nem perto, de considerar essa possibilidade. 

Fragmento 219: Aí o pastor é bastante… amável, com ele. E pergunta assim: E como é que você está se sentindo? Em relação a isso?

Fragmento 220: Aí o Ronaldo para, pensa… respira fundo, e deixa a resposta simplesmente… vir:  A palavra é… /// leveza. Eu tô… diferente. E pra melhor.

Fragmento 221: Aí o pastor se sentiu à vontade pra perguntar. Com sutileza: /  E você… já tomou uma decisão, ao lado de… Cristo?

Fragmento 222: Aí o Ronaldo…  dá uma esquivada, básica, e fala assim: Eu tô… amadurecendo, a ideia. É tudo muito recente, então…

Fragmento 223: Não era o que o pastor queria ouvir. Mas mesmo assim, ele ainda teve… de bom humor: Sei. Pelo visto… ainda não tá precisando, de um… help.

Fragmento 224: Aí o Ronaldo dá uma de desentendido, e parte pra especialidade dele. Drible: Então. Na verdade… sim. Daí a ideia, de entrevistar um pastor, da mesma denominação do criador do concurso, pra tentar colher elementos que possam… ajudar, na elaboração, do texto.

Fragmento 225: O pastor saca logo tudo e fala: E já que moram aqui, em São Paulo, porque não o que está mais próximo dele?

Fragmento 226:  E o Ronaldo confirma. A estratégia: Sim, sim. Exatamente.

Fragmento 227: Aí o pastor se ajeita na poltrona, e se anima, pra cooperar: Então manda ver.

Fragmento 228: Aí o Ronaldo abre uma agenda, e começa, a sondagem: Ok. Vamo lá então. É… O Mariano Zang… chegou a conversar com o senhor sobre a ideia do concurso? Como surgiu…

Fragmento 229: Aí o pastor revela, como tudo começou: Já fazia algum tempo, que ele vinha frequentando a nossa congregação. Até que um belo dia ele me procurou, querendo saber como poderia… ajudar a igreja. Aí eu falei: “Olha, alguns irmãos estão querendo… reativar o departamento de teatro”. Você tinha que ver a cara dele. “Departamento de teatro”? / O sonho dele era ser ator. E eu nem sabia.

Fragmento 230: E o Ronaldo foi anotando. E falou assim: Eu tô surpreso.

Fragmento 231: E o pastor… foi dando mais detalhes: Só que, devido a uma… eventualidade… ele teve que assumir os negócios da família, então…

Fragmento 232: O Ronaldo foi… fisgado, com aquela introdução. Aí perguntou assim: Sei, mas ele foi lá? Falar, com o pessoal?

Fragmento 233: E o pastor foi… desenrolando a história: Foi, e se entrosou de um jeito… que hoje, parece até que sempre esteve por aqui. “Mão na luva”. Não é assim que falam?

Fragmento 234: Aí o Ronaldo confirma, e ainda dá outra opção: Sim. “Pinto no lixo”.

Fragmento 235: E o pastor comprou: Pinto no lixo! / Eu só sei que foi desse entrosamento, que surgiu, a ideia, do concurso.

Fragmento 236: O Ronaldo gostou do que ouviu até ali. E continuou, com a sondagem: Sensacional. Mas e a experiência de conversão? Ele não deu maiores detalhes na imprensa, quando anunciou o concurso.

Fragmento 237: Aí o pastor apresentou uma justificativa bastante… plausível, pra isso: Provavelmente… por haver muitos… pormenores, a detalhar.

Fragmento 238: O Ronaldo compreendeu, mas continuou… cavando: Sei. Mas o senhor… conhece, esses… pormenores?

Fragmento 239: Aí o pastor começou a revelar, os detalhes. Sem maiores… cerimônias: Sim. Tudo começou, quando ele teve que passar algumas noites num hospital, acompanhando a mãe. E lá eles tinham dessas bíblias… bilíngues. Português/Inglês. Já viu uma dessas?

Fragmento 240: O Ronaldo tenta buscar alguma lembrança, a respeito, mas acaba respondendo: Não, não.

Fragmento 241: E o pastor… prosseguiu, com a narrativa: A página é dividida ao meio, e cada lado tem o texto numa língua. E ele resolveu ler, essa bíblia. Pra passar o tempo, e pra… aprimorar o inglês, devagarinho…

Fragmento 242: O Ronaldo vai anotando, e se mostra atento: Tô ligado.

Fragmento 243: Aí o pastor começa a entrar mesmo, lá no processo de conversão, do Mariano: E aconteceu, que… numa daquelas noites, ele acabou lendo uma frase – de Jesus – que… deixou ele muuito triste.

Fragmento 244: O Ronaldo ficou… consternado. E curioso, é claro. Teve que perguntar: Qual foi a frase?

Fragmento 245: Aí o pastor falou. E quer saber? Realmente… é braba: “Por que a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz”. E a luz, você sabe… era Ele.

Fragmento 246: Aí o Ronaldo ficou…  baqueado. Balançou a cabeça positivamente… e o pastor continuou: Mas aí ele pensou, com ele mesmo: “Pera aí. Eu, quero, a luz. Eu, escolho, a luz. Mas o que é que eu tenho que fazer”? Foi aí que ele se sentiu… conduzido, a simplesmente, continuar, lendo, a bíblia. Aquela coisa assim: (sutil) “Continua”. “Não para”.

Fragmento 247: Aí o Ronaldo… quis entender melhor aquilo. E questionou: Conduzido…? Como assim?

Fragmento 248: Aí o pastor é bem… espontâneo: Essas coisas são muito… íntimas. Deus, se revela, às pessoas. Na hora mesmo a gente mal percebe; acha que é coisa da própria cabeça… / São… sugestões. Sempre muito… sutis; muito… suaves. Muito… amáveis. Acho… que nem, a mais amável das mães.

Fragmento 249: Aí o Ronaldo… nitidamente tocado, surpreende o pastor: Eu… conheço uma história… bem… parecida.

Fragmento 250: E o pastor fala assim pro Ronaldo: Eu já ouvi muitas. E vi, as mudanças. De conduta; de postura. Diante da vida, dos problemas… E sempre pra melhor. Como você mesmo disse, agora há pouco.

Fragmento 251: Aí o Ronaldo deixa… transparecer, um certo interesse, em vivenciar algo daquele tipo: Sim. Mas… eu ainda não recebi, nenhum tipo de… visitação. Seria essa a palavra?

Fragmento 252: Aí o pastor fala algo, que desperta a curiosidade do Ronaldo, assim… de vez: Sim. Mas talvez… o restante dessa história, possa te ajudar com isso.

Fragmento 253: Aí o Ronaldo coloca o pastor de volta nos trilhos, da narrativa, sobre o Mariano: Ok. Então… ele… seguiu, aquela… orientação.

Fragmento 254: E o pastor… vai dando os detalhes: Sim. Era uma véspera de feriado prolongado, e ele embarcou, naquele comando, quase que… em tempo integral. Até que…

Fragmento 255: O pastor faz uma pausa, mas o Ronaldo, vidrado, dá um empurrãozinho: Até que…

Fragmento 256: Aí o pastor descreve algo… surreal: Alguns dias depois, já em casa, no quarto dele, segundo ele: “Foi como se depois de 45 anos de vida, alguém acendesse a luz pela primeira vez”. Só que aquela luz, foi se intensificando, muito, até que tudo se tornou… apenas… luz. Que apesar de intensa, não lhe ofuscava a visão. Consegue imaginar isso?

Fragmento 257: Aí o Ronaldo, ligadíssimo, fala pra ele: Já tô lá.

Fragmento 258: Aí o pastor faz um alerta. Ele vira e fala assim:  Então se prepara.

Fragmento 259: O Ronaldo até se ajeita na poltrona. E autoriza:  Pode falar.

Fragmento 260: Aí o pastor continua: De repente, de dentro daquela luz, surgiu uma espécie de… enigma. Envolvendo três versículos. / Como contar isso num jornal? É como eu falei…

Fragmento 261: O Ronaldo até concordou, mas tava ansioso, e impulsionou a narrativa: Sim, é muito detalhe. Mas… que enigma era esse? Ele falou, né?

Fragmento 262: Aí o pastor faz uma ressalva: Sim. E é melhor você anotar.

Fragmento 263: O Ronaldo pega a agenda, e se posiciona: Tô pronto.

Fragmento 264: Aí, uma projeção da agenda, no fundo do palco, mostra a transcrição do Ronaldo. E o pastor começa, a enumerar, os versículos envolvidos no tal enigma: João 17:17 – “Santifica-os na verdade. A Tua palavra é a verdade”. Grifa, a segunda frase.

Fragmento 265: O Ronaldo anota, e frisa: Ok. “A tua palavra é a verdade”.

Fragmento 266: E o pastor parte pro segundo versículo: João 14:16 – “Eu sou o caminho, a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim”. / Grifa, “Eu sou”, e… “a verdade”.

Fragmento 267: Essa projeção ficou interessante, porque não deixa as pessoas perderem a perspectiva do Ronaldo, que fica sem entender: Ok. / Ué, mas…

Fragmento 268: Até aí, se alguém não entendeu, mesmo com os trechos grifados, lá no telão, o pastor deixa tudo muito claro: Pois é. Quem é a verdade? Ele, ou a Palavra?

Fragmento 269: Aí, enquanto o Ronaldo hesita em responder, o pastor vai lá e atropela:  Apocalipse 19:13 – “E estava vestido de uma veste salpicada de sangue. E o nome pelo qual se chama é a Palavra de Deus”.

Fragmento 270: O Ronaldo nem anotou mais nada. Ficou… atordoado: Pera aí. É… O nome dele… O quê?

Fragmento 271: Aí o pastor decreta logo: Ele é a palavra. A bíblia. Aquela, empoeirada em cima de muita prateleira por aí.

Fragmento 272: Aí o Ronaldo fica… perplexo, tentando ligar os pontos: Pera aí. Jesus, que é a luz, rejeitada pelos homens – mas que o Mariano quis – se revelou pra ele, na forma de luz, pra dizer que Ele, Jesus, é também, a Palavra. Palavra essa na qual o Mariano… “mergulhou”.

Fragmento 273: Aí o pastor usa um outro versículo, que se encaixa na situação, e faz um comentário muito interessante: “Achegai-vos a Deus, e Ele se chegará a vós”. E pelo visto… na mesma proporção.

Fragmento 274: O Ronaldo se impressiona, por já ser um alvo dos efeitos desse processo. E faz um questionamento muito interessante também: Quer dizer então… que uma… superexposição à Palavra… converteria qualquer um?

Fragmento 275: O pastor pensa um pouco, e responde: Não podemos transformar uma experiência pessoal em doutrina, mas… eu acredito que é por aí mesmo.

Fragmento 276: E o Ronaldo admite, o quanto está surpreso: Eu tô muito… impressionado.

Fragmento 277: Aí o pastor faz uma ressalva: Não é uma receita de bolo. Tem que ser com a motivação correta; com humildade, diante do seu Criador… Com muita… sinceridade. Mesmo porque, o nosso coração está… nu, diante Dele, então… / Use isso na sua peça.

Fragmento 278: O Ronaldo ainda tá processando aquilo tudo, mas gostou da ideia: Vou ver se eu dou um jeito.

Fragmento 279: Aí o pastor usa uma metáfora: A Palavra é uma semente. E a mente, um terreno. Se ela vai brotar ali, criar raízes, até envolver o coração… Aí depende de cada um. Livre arbítrio.

Fragmento 280: Aí rola uma pausa. O Ronaldo tá muito pensativo. Até que o pastor fala assim: Me responde uma coisa: Qual foi a passagem que mais chamou a sua atenção até agora?

Fragmento 281: Aí o Ronaldo se concentra, e responde: É uma em que Jesus fala sobre… o… Ajudador. Ajudador, com letra maiúscula.

Fragmento 282: Aí o pastor recita, a passagem: “Mas o Ajudador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em Seu nome, vos ensinará todas as coisas…”. Na verdade, ele vai morar em você. Lembrei até do Mariano falando: “Eu nunca mais vou saber o que é solidão”. E é verdade.

Fragmento 283: O Ronaldo até respira fundo. E de repente, lembra de algo: Tem uma outra – que o senhor falou pra senhorinha que saiu daqui – a porta tava entreaberta, eu acabei ouvindo. É sobre… fechar a porta do quarto, pra falar com Deus.  

Fragmento 284: Aí o pastor… aciona o HD, e manda: Mateus, capítulo 6, versículo 6: “Mas tu, quando orares, entra no teu aposento, e fechando a tua porta, ora a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê secretamente, te recompensará”. É de Jesus também.

Fragmento 285: E o Ronaldo… acolhe, aquelas palavras: É muito tocante.

Fragmento 286: Aí o celular do pastor toca. Ele pede licença, e atende: Só um momento, por favor. A ligação que eu te falei.

Fragmento 287: Aí o Ronaldo se despede: Pastor Walter, foi um enorme prazer.

Fragmento 288: O pastor Walter… um gentleman: O prazer foi todo meu.

Fragmento 289: E o Ronaldo agradece, enquanto os dois caminham até a porta: Muito obrigado. Pelo seu tempo; pela sua atenção…

Fragmento 290: Aí rola um aperto de mão, e a gente fica sabendo o porquê da ausência do Murilo: Não há de quê. E… melhoras, pra tia do seu amigo. E sempre que quiser… apareça.

Fragmento 291: Aí o pastor abre a porta, e o Ronaldo faz uma última pergunta: Tá bom. / Será que algum dia, eu vou ouvir, essa tal…voz?

Fragmento 292: Aí o pastor usa as próprias palavras do Ronaldo, e ainda dá uma dica e tanto: Deus, quer, intimidade. Você mesmo disse. Apenas não seja… fominha de bola.

Fragmento 293: O Ronaldo acha graça, e fala assim: Entendi.

O Ronaldo se retira, e o pastor fecha a porta juntamente com o apagar das luzes. Fim da terceira cena.

Cena 04 – Manias Nacionais

Ronaldo, e sua filha Gabriela (20), conversam na sala de casa.

Fragmento 294: A quarta cena começa com o Ronaldo e a filha conversando na sala de casa. Ele tá numa mesa, de frente prum notebook, e ela tá de pé, ali a volta dele. O papo já vinha rolando, e o Ronaldo com uma certa tristeza… toca num assunto já conhecido do público: Pô Bibi… você sabe que eu gosto da sua mãe.

Fragmento 295: Aí a Gabi tenta… levantar o astral, do coroa:  Eu sei pai, mas a vida continua, né? Quer saber? Foca nisso aí. Tá te fazendo bem. Capricha, no que o tal milionário pediu.

Fragmento 296: Aí o Ronaldo especifica a meta, e se mostra… positivo e operante: Potencial evangelístico? Com certeza.

Fragmento 297: Aí a Gabi passa por traz do Ronaldo, com uma cara de quem tá querendo alguma coisa, e faz o seguinte comentário: O senhor falou que tá ficando ótima, né?

Fragmento 298: Aí o Ronaldo é… enfático: Tá.

Fragmento 299: Aí a Gabi se agacha rapidamente ao lado dele, e apela: Deixa eu ler, vai.

Fragmento 300: Aí o Ronaldo fecha o notebook e fala assim: Nãão.. Já falei. Foi o combinado com o Murilo. Sigilo, total.

Fragmento 301: Aí a Gabi se afasta da mesa, e a gente começa a entender o porquê, do Ronaldo ter falado em… xadrez. Olha ela: Aah… fala sério. / Só o tema. Ou nem isso pode?

Fragmento 302: Aí o Ronaldo… já de olho na tela, tenta escorregar, e dá uma pincelada, bem… superficial, tentando encerrar o assunto: É sobre uma… conspiração mal acabada, por parte do… universo. Aparentemente, mal acabada.

Fragmento 303: Doce ilusão, do Ronaldo. Lá veio ela: Conspiração do universo… / Em relação a quê?

Fragmento 304: AÍ o Ronaldo, ainda tentando se concentrar, falou pra ela, meio… ensaboado: É sobre uma… intervenção divina, numa determinada… realidade.

Fragmento 305: Mas a Gabi… tava a fim: Intervenção divina ou conspiração do universo?

Fragmento 306: Aí o Ronaldo, pra se desvencilhar, tenta dar lá um dos seus… dribles:  É… um dos questionamentos, do texto.

Fragmento 307: Saca… mosca de padaria. Ó ela: Pô, legal. Fiquei curiosa. Mais curiosa! Nééé?

Fragmento 308: Aí o Ronaldo fecha o note, e muda de estratégia. Ou melhor, de assunto: Nãão, pera aí. Aqui: E aquela história maluca lá, com aquele… nerd?

Fragmento 309: Aí a Gabi ficou sentida. E pediu, numa boa: Não chama ele assim… Outro dia ele ouviu. E não gostou. Ficou triste.

Fragmento 310: Aí o Ronaldo deu uma abrandada, mas não mudou de assunto: Tá bom. Mas e aquela história? De casamento? Você é muito nova minha filha.

Fragmento 311: Aí ela usou um argumento, que já devia estar guardado, pra ocasião: Vovó Candinha casou com dezesseis papai.

Fragmento 312: E o Ronaldo retruca: Isso aí foi em ooutra época.

Fragmento 313: Aí a Gabi pegou pesado: Mamãe engravidou com…?

Fragmento 314: Aí o Ronaldo partiu pro bom e velho… choque de realidade: Tá bom. E vão viver do quê?

Fragmento 315: Aí a Gabi, muito tranquila, virou pra ele e falou assim: Era tudo o que eu precisava ouvir. / A gente tem um plano. E vamos precisar da sua ajuda.

Fragmento 316: O Ronaldo, assustado, entrou em modo… tatu bola: Se for dinheiro…

Fragmento 317: A Gabi não deu a mínima, e veio com uma novidade: Mas a gente vai te ajudar também. A ganhar esse concurso.

Fragmento 318: Deu pra ler na cara do Ronaldo. “Onde é que eu fui amarrar a minha égua”? E ele falou, bem descrente: Ah é?

Fragmento 319: Sabe aquela… tranquilidade irritante? Ó ela: Hum hum.

Fragmento 320: Aí o Ronaldo, mesmo sem entusiasmo, resolveu pagar pra ver: E como seria isso?

Fragmento 321: Se o que a Gabi queria, era causar… estranhamento… Ouve essa: Bom, pra começar, a gente vai ter que falar um pouquinho sobre… manias nacionais.

Fragmento 322: O Ronaldo com aquela cara de… “Eu mereço isso”? Só verbalizou mesmo um…: Tá. Vai.

Fragmento 323: Aí a Gabi selecionou três manias nacionais: Por exemplo: Três. Futebol, samba e novela.

Fragmento 324: O Ronaldo entrou chuva. “Vou me molhar”: Ok.

Fragmento 325: E a Gabi, intrépida: Vejamos os lados formais, e informais, dessas manias nacionais.

Fragmento 326: Reação, mórbida, do Ronaldo: Isso vai me ajudar a ganhar o concurso?

Fragmento 327: E a Gabi nem se abala. Tá muito confiante: Vai. Presta atenção. Futebol. Qual é o lado, formal, dessa mania nacional?

Fragmento 328: E o Ronaldo tenta acompanhar: Formal… que você fala…

Fragmento 329: A Gabi não espera: O lado profissional. Os clubes; os campeonatos… Estaduais; nacionais… Copa do mundo… E toda a grana que isso envolve.

Fragmento 330: Aí o Ronaldo frisa, que tá acompanhando: Certo. O lado profissional é o lado formal.

Fragmento 331: Aí a Gabi pergunta: Isso. E qual seria o lado informal, dessa mania nacional?

Fragmento 332: Aí Ronaldo para, pensa, e responde com uma certa hesitação: O futebol com os amigos? Aquela peladinha, sagrada, uma vez por semana.

Fragmento 333: Aí a Gabi, satisfeita, tece considerações: Perfeito. Ou seja, em relação ao lado formal, profissional, o cidadão comum é apenas um… espectador, mas no lado informal, ele passa a ser… agente.

Fragmento 334: Aí o Ronaldo… banca o Murilo, e não perde a piada: A gente é a gente, eles são eles.

Fragmento 335: Aí a Gabi, sofrida, apela: Paai… O senhor entendeu, né?

Fragmento 336: Aí pra ela relaxar o Ronaldo deixa claro: Siiim minha filha.

Fragmento 337: Aí a Gabi… engrena: Tá bom. Agora, Samba. Lado formal: Os desfiles de carnaval; os grupos profissionais de samba; de pagode; fazendo seus shows… Já se vendeu muito CD; muito DVD…

Fragmento 338: E o Ronaldo… acompanha: Sim, sim.

Fragmento 339: Aí a Gabi pergunta: Mas qual é o lado informal, dessa mania nacional?

Fragmento 340: Aí o Ronaldo para, pensa, mas a Gabi, sem paciência atropela: Aquela batucada, naquele boteco, tradicional, lá da sua vizinhança… / O próprio carnaval. Nos bairros; nos blocos…

Fragmento 341: E o Ronaldo… tá dentro: Sim, sim!

Fragmento 342: E a Gabi… milimétrica: Ou seja, o espectador do lado profissional, mais uma vez, vira…  agente. Ok?

Fragmento 343: E o Ronaldo se aplica ali, ao enredo: Tá. Tô te acompanhando.

Fragmento 344: Aí a Gabi chega na terceira mania nacional: Agora, novela: Lado formal?

Fragmento 345: Aí o Ronaldo pensa um pouco, e responde: As novelas mesmo. Não é isso?

Fragmento 346: A Gabi concorda, e detalha: Sim. E mais uma vez, lá está, o cidadão comum, como espectador do lado formal, de uma mania nacional. Agora me diz: Onde é que está o lado informal, dessa mania nacional?

Fragmento 347: Aí o Ronaldo para pra pensar. Ele, e a plateia. E provavelmente a resposta é unânime: Não tem.

Fragmento 348: Aí a Gabi, com satisfação, enfatiza: Existe uma lacuna aí. Okeí?

Fragmento 349: Aí o Ronaldo demonstra uma certa… perplexidade, e fala assim: Sim. Realmente. Foi você que sacou isso filhota?

Fragmento 350: Aí a Gabi, com todo prazer do mundo, responde: Não. Foi o… nerd. / E acredite se quiser, ele sabe como preencher essa lacuna.

Fragmento 351: Aí o Ronaldo para, pensa… E chega a outra conclusão provavelmente unânime: Não tem como.

Fragmento 352: Aí a Gabi ignora aquilo, e começa a andar pela sala, falando consigo mesma:  Mas, teria que ser com um texto de teatro muito bom.

Fragmento 353: Aí o Ronaldo questiona: Como assim teatro? Não é novela?

Fragmento 354: E a Gabi explica: Novela é um subproduto pai. E é um troço quilométrico! A gente tem que ir na raiz. O senhor vai entender. 

Fragmento 355: E o Ronaldo… quer saber mais: Então… sem uma peça muito boa… não vai.

Fragmento 356: Aí a Gabi revela, o quanto já vinha… se empenhando: Pois é, eu mostrei aquela sua, a que gente encenou na escola. Ele gostou, mas achou meio… datada. Aí eu falei: “Eles estão escrevendo outra”. E ele ficou bem interessado.

Fragmento 357: Aí o RONALDO ficou interessado. Mesmo sem saber dos… pormenores da coisa: Ficou é?

Fragmento 358: E a Gabi confirma: Muito.

Fragmento 359: Aí o Ronaldo quis saber dos detalhes: Mas como é que ele faria pra preencher, essa… lacuna?

Fragmento 360: E lá foi a nossa… enxadrista: Pois é. Ele também me pediu segredo. // Xeque.

Fragmento 361: Ela enquadrou o Ronaldo. Ele ficou sem saída: Tá bom. Eu vou ligar pro Murilo. Agora fala.

Fragmento 362: A Gabi… de bate-pronto: Liga agora.

Fragmento 363: Aí o Ronaldo, na maior inocência: Tá muito tarde. Amanhã eu ligo.

Fragmento 364: E a Gabi… uma muralha: Então amanhã a gente conversa.

Fragmento 365: Aí o Ronaldo apela: Aah qual é? Me dá só uma palhinha.

Fragmento 366: Aí a Gabi cede um pouco. E é… enfática: É algo que vai PRIN-TAR, o seu texto, no cérebro das pessoas.

Fragmento 367: Aí o Ronaldo teve que baixar um decreto: Agora cê vai ter que falar.

Fragmento 368: Não tem aquele même do Robert Downey Júnior revirando os olhos? Então. Mas aí a Gabi abre o jogo, em linhas gerais: Ele sabe como… democratizar uma direção de cena.

Fragmento 369: O Ronaldo não entendeu, e teve que perguntar: Como assim? Qualquer um pode dirigir a cena? É isso?

Fragmento 370: Aí a Gabi percebe que vai ter que dar mais detalhes: Qualquer um vai ter acesso, a direção das cenas.

Fragmento 371: Aí o Ronaldo pensa um pouco, e pergunta: Tá bom. Acho que entendi. Mas… como?

Fragmento 372: E a Gabi explica: Ele bolou três formas distintas, de capturar em vídeo, o repasse dinâmico de uma direção de cena. Sendo que as três se complementam, numa espécie de… prisma.

Fragmento 373: O Ronaldo avalia, e diz o que achou: Interessante.

Fragmento 374: E a Gabi prossegue: Com isso nas redes, as pessoas podem brincar em casa, de encenar, sem compromisso. Escolhe um trechinho, ensaia; encena; filma; se auto avalia… Ficou bom? Joga na net.

Fragmento 375: O Ronaldo… viu a luz. Só conseguiu… balbuciar uma única palavra: Informalidade…

Fragmento 376: E a Gabi ainda dá mais detalhes: É isso aí. E ainda tem a base do prisma. Um canal dando altas dicas, e tirando as dúvidas da galera.

Fragmento 377: O Ronaldo fica meio pasmo: Me belisca. 

Fragmento 378: E a Gabi já tá lá na frente. Parece já ter pensado em tudo: Imagina se alguém, pelo menos a princípio, patrocina um número razoável de encenações. Um empurrãozinho, pra coisa pegar no tranco.

Fragmento 379: E o Ronaldo quer entender melhor: Você fala…

Fragmento 380: E a Gabi dá opções… interessantíssimas: Uma dessas denominações evangélicas centenárias… Ou o próprio ricaço lá. O filho dele tem uma agência de atores. Acho que seria fácil colocar fogo nesse meio.

Fragmento 381: O Ronaldo se mostrou ainda mais surpreso com essa informação: Disso eu não sabia. Você andou sondando Mariano?

Fragmento 382: Aí a Gabi revela a existência uma equipe, trabalhando nos bastidores: Não. Isso aí foi coisa… dos três mosqueteiros. O seu genro, com os amigos dele lá.

Fragmento 383: E o Ronaldo acha aquilo interessante: Sei.

Fragmento 384: Aí a Gabi, querendo que o pai levasse fé de vez naquilo tudo, resolveu facilitar. Ela virou e falou assim: Para e pensa: O Brasil tem hoje, 20 mil atores e atrizes com formação, precisando trabalhar a visibilidade. Quem não é visto, não é lembrado. E a coisa toda é uma vitrine, né?

Fragmento 385: O Ronaldo concorda, mas faz um questionamento: Sim. Claro. / Mas aí seriam atores, e não… o cidadão comum.

Fragmento 386: E a Gabi… esclarece: Sim, mas 99% deles são totalmente desconhecidos do grande público, então… quem vai perceber? E isso seria mais no começo. Até o público… entrar, na dança.

Fragmento 387: O Ronaldo acha aquilo bastante plausível, e comenta: Pelo visto… vocês já pensaram em tudo.

Fragmento 388: E se o Ronaldo ainda tinha alguma dúvida… lá foi ela: Quer ver outra coisa? Desejar o maior número possível de conversões, não cabe apenas a convertidos… milionários. Correto?

Fragmento 389: O Ronaldo não entende aquela colocação, e pergunta: Que que cê quer dizer?

Fragmento 390: Aí a Gabi, muita lógica, esclarece a dúvida, mas… encasqueta o coroa de vez: Que 150 milhões de cristãos, viralizam o que quiserem! Financiando; encenando; postando… / Ou pelo menos… trabalhando os fragmentos da cocha de retalhos.

Fragmento 391: O Ronaldo entendeu a primeira parte, mas a parte final… despertou a curiosidade dele: Fragmentos? Colcha de retalhos?

Fragmento 392: Aí a Gabi percebe que se estendeu demais, mas consegue, se desvencilhar: É… algo… pras pessoas… começarem a representar, só que… meio que… sem perceberem. Esquece. É coisa dos nerds lá.  

Fragmento 393: O Ronaldo não entende muito bem, mas mesmo assim elogia a sagacidade, da galerinha: Aplicados, não?

Fragmento 394: Aí a Gabi, enchendo a bola do namorado, virou e falou assim: Sim! Quando o… nerd, leu no edital: “…maior potencial evangelístico…”. Ó ele pra mim: “Maria Gabriela…, eu tenho o “fermento” ideal pra isso”!

Fragmento 395: O Ronaldo, meio sem graça, tenta ser agradável, e lembra, da pulga, atrás da orelha: Interessante. / Colcha de retalhos…?

Fragmento 396: Aí a Gabi se levanta, e tenta encerrar conversa: Ó, já falei demais. Vou tomar um banho e vou dormir.

Fragmento 397: Mas o Ronaldo quer mais: Pera aí! E essas capturas de direção de cena? Me explica!

Fragmento 398: Aí a Gabi exige, o mais que merecido… retorno: Liga pro Murilo. Amanhã a gente conversa.

Fragmento 399: Aí o Ronaldo começa a apelar: Não, não, não, não…

Fragmento 400: Aí a Gabi liga o modo… Kasparov, e sai de cena: Psssh! Ó: Xeque-mate!

Fragmento 401: Aí o Ronaldo dá uma congelada, mas logo pega o celular, e faz uma ligação, enquanto sai de cena: Alô. Desculpa a hora. Assunto de segurança nacional.

As luzes se apagam. Fim da 4ª cena.

Cena 05 – O Prisma

Fragmento 402: A quinta cena começa com Ronaldo e Murilo conversando na sala da casa do Ronaldo. O papo já vinha rolando, e o Ronaldo fala assim: Aí a gente libera… 70, 80% da peça, e segura o final.

Fragmento 403: Aí o Murilo revela a quantas anda aquela conversa: Entendi. / Bom, eu ainda não conheço os outros dois lados desse… prisma, mas esse, pras ovelhas do pastor Walter, vai ser praticamente… lazer.

Fragmento 404: E o Ronaldo concorda: Eu também vejo assim.

Fragmento 405: E o Murilo faz uma ressalva: Mas tem que explicar direitinho: Olha, são quinhentas falas, e cada uma vai gerar um fragmento. E o que é um fragmento? É, a fala…  

Fragmento 406: E o Ronaldo completa: …precedida de uma narrativa, contendo elementos de direção de cena, que te conduz… à… fala. É algo mais curto que uma dancinha de TikTok.

Fragmento 407: O Murilo concorda, mas faz uma outra ressalva: Sim. Mas aí tem que dar uns exemplos.

Fragmento 408: Aí o Ronaldo puxa uma folha, que tava dobrada no bolso, e mostra que fez o dever de casa: Tá aqui ó. Eu escrevi uma cena curta, só pra treinar.

Fragmento 409: O Murilo ficou curioso: É sério? Cadê? Lê aí.

Fragmento 410: Aí o Ronaldo especifica a primeira fala: Primeira fala: “Tudo bem dona Carolina. Podemos… tentar”.

Fragmento 411: Aí o Murilo, ansioso:  E o fragmento? Como é que ficou?

Fragmento 412: Aí o Ronaldo apresenta o resultado: Fragmento da fala 1: “A peça começa com Rogério, psicólogo da Carolina, olhando pela janela, com ar reflexivo… Enquanto ela, sentada no divã, de pernas cruzadas, coluna ereta… toda classuda, aguarda ansiosamente uma resposta. Até que ele se vira pra ela e fala assim: “Tudo bem dona Carolina. Podemos… tentar”. Captou?

Fragmento 413: O Murilo se amarra, e resume a estratégia:  Sim, ficou ótimo! Você passa elementos de direção de cena, enquanto simplesmente… conta, a estória.

Fragmento 414: E o Ronaldo e continua: Fragmento da fala 2:

Fragmento 415: E o Murilo… dá corda: Vai, vai.

Fragmento 416: E o Ronaldo segue: “Aí a Carolina faz aquela cara, de quem ouviu o que queria ouvir, e fala pra ele: “Aaah ótimo”!

Fragmento 417: Aí o Murilo comenta: E é aquilo que você falou: Descontração.

Fragmento 418: E o Ronaldo confirma: Siim. Assistiu a peça ontem, e hoje tá na sala de casa, contando pro melhor amigo.

Fragmento 419: O Murilo balança a cabeça positivamente, e o Ronaldo continua: Fragmento 3: “Aí o Rogério fala pra ela assim… com um ar bem brincalhão: “Mas deixe o… poodle, de sobreaviso”. Fragmento 4: “Isso aí a gente só vai entender láá na frente, mas a Carolina entende na hora. Tanto que respondeu com o maior sorrisão. Fazendo pausa e tudo: “Tá bom, doutor Rogério”. E aí?

Fragmento 420: Aí o Murilo passa a “régua” na horizontal, e responde: Perfeito.

Fragmento 421: E o Ronaldo dá mais detalhes, sobre a empreitada: Então. A gente elabora um por um, grava, e disponibiliza. Quem quiser participar, escolhe um, ou mais, e… clona.

Fragmento 422: Aí o Murilo procura… entender melhor: Quando você fala clona…

Fragmento 423: E o Ronaldo explica: Imita. Escolhe um, assiste 20 vezes, encena e filma… 50; escolhe o melhor, e manda.

Fragmento 424: Aí o Murilo pergunta: Manda pra onde?

Fragmento 425: O Ronaldo responde, e faz uma consideração: Pros nerds! A 1ª colcha de retalhos é deles. Se não dormirem no ponto. É lógico que vão jogar esses fragmentos na Net. Aí… quem mexe com edição vai fazer a festa.

Fragmento 426: Aí o Murilo faz uma observação interessante: Se as igrejas começarem a encomendar então…

Fragmento 427: Aí o Ronaldo avalia aquilo, e fala assim: Eu não tinha pensado nisso. Agora imagina: a pessoa dá de cara com uma dessas e pensa o quê? “Que história é essa que todo mundo conhece, menos eu”?

Fragmento 428: E o Murilo ressalta: E conhecem assim… com uma propriedade, né? Com uma… familiaridade.

Fragmento 429: Aí o Ronaldo frisa algo, e depois começa a… divagar: Com a NOSSA propriedade. Por isso é que tem que… clonar. / Agora imagina: A primeira patchwork teatral da história, sendo replicada; virando febre… E tem tudo pra isso.

Fragmento 430: O Murilo até concorda, mas tem que perguntar: Pode crê. / A primeira o quê?

Fragmento 431: E o Ronaldo explica: Patchwork. P – a – t – c – h work. Patchwork. Colcha de retalhos, em inglês.

Fragmento 432: O Murilo pensa um pouquinho, e fala, com simpatia: Gostei.   

Fragmento 433: Aí rola uma pausa breve, até que o Ronaldo… expõe uma preocupação: Quanto a esse o lance, de usar a igreja do pastor Walter, como… protótipo… Ele topa, não topa?

Fragmento 434: Quanto a isso o Murilo é categórico: Topa. A princípio a colcha seria só com a primeira cena, pro marketing, no município. O Mariano até bancaria a montagem do espetáculo. Se não quiser inclusive… atuar. / Dividindo a igreja em quatro grupos…

Fragmento 435: RONALDO – Aí o Ronaldo faz os cálculos: Daria… 22 fragmentos pra 300 pessoas.

Fragmento 436: E o Murilo… otimiza: Fora os familiares. Conhecidos, de outras igrejas. Que já espalhariam a novidade…

Fragmento 437: Aí o Ronaldo tem uma sacada bem interessante: Viraria meio que… uma gincana, né?

Fragmento 438: E Murilo, mais uma vez, sagaz, e convicto: Sim! Uma injeção de ânimo! No rebanho! / Mas aqui…

Fragmento 439: O Ronaldo, que já tava visualizando aquele quadro, aterrissa: O quê? Fala.

Fragmento 440: Aí o Murilo dá um reset: E os outros dois lados do prisma?

Fragmento 441: E o Ronaldo, volta aos trilhos: Ah é… Então. Vamo lá. O segundo lado desse prisma, seria… uma leitura dirigida.

Fragmento 442: Aí o Murilo… visualiza o processo: Todo mundo sentado… com o texto na mão…

Fragmento 443: E o Ronaldo, dá os pormenores: Sim, só que, uma leitura dirigida, normalmente é algo muito corrido. Feito às pressas. Entende?

Fragmento 444: Aí o Murilo mostra que… tem uma noçãozinha: Eu sei. Aquilo é só pra… saber se o texto é bom; se vale a pena investir… Se a pessoa sabe realmente escrever…

Fragmento 445: E o Ronaldo revela o que eles podem conseguir, com um pequeno ajuste, nessa ferramenta:  Pois é. Só que nesse caso, a leitura dirigida é que vai ditar o ritmo, que a peça vai ter no palco. As pausas; as entonações; as caras e bocas…

Fragmento 446: O Murilo, obviamente gostou da ideia: Isso é muito interessante.

Fragmento 447: E o Ronaldo ainda acrescenta: As reações faciais de cada um, durante as falas do outro…

Fragmento 448: Aí o Murilo fala uma grande verdade: Isso vai dar trabalho.

Fragmento 449: Mas o Ronaldo tá otimista, e tem suas razões: Pois é, mas a gente ainda tem quatro meses. E a rapaziada tá com a gente, né?

Fragmento 450: Aí o Murilo quer saber mais, sobre essa galera: Os nerds. O namorado da Gabi é o cabeça ali, né?

Fragmento 451: Aí o Ronaldo… especifica as qualificações, das peças: Sim. Aí tem o Roger, formado em artes cênicas, e o Brunovsk. Um monstrin, na captação e edição de imagens.

Fragmento 452: O Murilo até dá uma relaxada: Então estamos bem.

Fragmento 453: E o Ronaldo, entra na próxima fase: Terceira face prisma.

Fragmento 454: O Murilo ajusta o foco, e dá o sinal verde: Manda ver.

Fragmento 455: Aí o Ronaldo prossegue: Seria esse mesmo vídeo, da leitura dirigida, com dezenas de pausas, pra gente inserir informações, sobre contexto da cena; psiquê dos personagens… Argumentações, sobre o porquê assim, e não assado… E tudo mais que for necessário.  

Fragmento 456: O Murilo, antenado, capta qual é a intenção ali: É pra esgotar o assunto, né?

Fragmento 457: E o Ronaldo gostou, dessa sacada do Murilo: Exatamente. Você entendeu o espírito da coisa.

Fragmento 458: Aí o Murilo… dá uma recapitulada: Colcha de retalhos; leitura dirigida, ditando o ritmo; e, leitura dirigida… 

Fragmento 459: Aí o Ronaldo completa, até com uma certa… classe: …dissecada para enxerto informacional. O que é que cê tá achando?

Fragmento 460: O Murilo tá meio zonzo, e fala assim: Eu tô… assimilando. Por enquanto… a labirintite tá na dela.

Fragmento 461: E lá foi o Ronaldo, sem dó nem piedade: E ainda tem a base.

Fragmento 462: Aí o Murilo, sem entender nada: Que base?

Fragmento 463: E o Ronaldo explica: A base do prisma. Um canal na internet, pra tirar as dúvidas, de quem for montar o espetáculo. Nas igrejas, nas ruas… Ou, brincar com tudo isso em casa: escolhendo trechos das cenas; encenando; filmando; se auto avaliando; postando nas redes…  Que é… um dos objetivos principais, né?

Fragmento 464: Aí o Murilo vai longe:  Claro, claro. Preencher a tal… lacuna. / No final das contas, o público vai pras igrejas, não apenas pra conhecer o desfecho da obra, mas também pra avaliar, se as instruções de cena estão sendo seguidas à risca. Algo completamente inédito. Como é que eu durmo hoje?

Fragmento 465: E o Ronaldo responde. Indiretamente: Eu não tinha pensado nisso. Ah! E com os apps de tradução… a coisa ganha o mundo, né?

Fragmento 466: Aí o Murilo fala assim: Entendi. Não durmo. Ó a labirintite ó.

Fragmento 467: E o Ronaldo… pró-ativo: Aqui, desencana. Próximo passo: Marcar uma reunião. Com o meu genro, e os outros dois lá.

Fragmento 468: O Murilo, mesmo… bombardeado, detecta um ato falho do amigo: “Meu genro”? Mas não era “o nerd”?

Fragmento 469: Aí o Ronaldo pergunta, meio assustado: Eu falei meu genro?

Fragmento 470: E o Murilo confirma: Falou.

Fragmento 471: Aí o Ronaldo se justifica, e sai pela tangente: Seei… (rápido) Não devo estar bem. Dormi pouco essa noite. Mas se liga aqui.

Fragmento 472: O Murilo acha graça, e deixa pra lá: Fala.

Fragmento 473: E o Ronaldo parte pro que interessa: A gente tem que impressionar o pastor Walter. Ele é o link com Mister Zang.

Fragmento 474: O Murilo assente com a cabeça e fala assim: Agora você falou tudo. O que é que você tem em mente?

Fragmento 475: Aí o Ronaldo apresenta uma estratégia: A gente grava uns vídeos, como exemplos, dessas capturas, pra ele visualizar o processo, e pede ajuda pra chegar no Zang.

Fragmento 476: Aí o Murilo lembra dos nerds, e fala assim: Essa molecada caiu do céu.

Fragmento 477: E o Ronaldo… tem uma boa sacada: Devem estar pensando o mesmo nós. Um texto inédito; de boa qualidade; sem empecilhos quanto a direitos autorais…  

Fragmento 478: E o Murilo confessa: Eu não tinha pensado nisso.

Fragmento 479: Aí o Ronaldo lembra de uma particularidade do projeto, e comenta: Eles têm um nome pro projeto. Arte, Sísmica.

Fragmento 480: E o Murilo avalia: Arte Sísmica. De abalo, sísmico.

Fragmento 481: E o Ronaldo enxerga, uma certa lógica: É. Pra dar uma sacudida aí, na realidade.

Fragmento 482: O Murilo gostou, mas fez uma ressalva: Muito bom. Só não tem apelo popular, né? Tem que dizer logo de cara, a que veio.

Fragmento 483: O Ronaldo entende que isso pode ser negociado: A gente fala sobre isso com eles.

Fragmento 484: E o Murilo… até que manda bem: Quer ver só? Projeto… “Teatro para Todos”.

Fragmento 485: Aí o Ronaldo, de imediato, faz as vezes do público: “Opa, também quero”.

Fragmento 486: O Murilo vai lá, e profetiza: Viu só? E não é essa a ideia? Aí chegam lá… e era vez uma lacuna.

Fragmento 487: Aí o Ronaldo levanta as mãos e fala assim: Que os anjos digam amém! Vamo ligar pra eles logo?

Fragmento 488: O Murilo dá a maior força, é claro: Demorou. O Ronaldo pega o celular pra ligar, e as luzes se apagam. Fim da quinta cena.